terça-feira, 26 de maio de 2015

É seguro partir comprimidos?

O uso de medicamentos por via oral é considerado uma das formas mais adequadas para administrar-se um medicamento, sendo segura, econômica e de fácil manipulação e identificação, portanto, pode ser considerada como uma terapia de escolha para alguns pacientes (Ferreira et al., 2012).


Através da via oral podem ser administradas formulações líquidas e/ou sólidas, sendo que as mais amplamente utilizadas são comprimidos, cápsulas, suspensões, soluções e emulsões (Aulton, 2005). 
 

Em relação ao uso de comprimidos, é comum sua partição. Esta prática consiste na divisão do comprimido ao meio, seja com o auxílio de faca, cortadores especiais ou até mesmo com as próprias mãos. Em algumas situações, esta prática ocorre com consentimento médico. Já em outros casos, a partição é realizada pelo próprio paciente, como forma de diminuir os custos com o tratamento uma vez que, em geral, medicamentos em doses maiores são mais baratos que seus equivalentes em doses menores (Ferreira et al., 2012).



A prática de divisão de comprimidos é aconselhável em casos onde o paciente necessita utilizar uma dosagem do medicamento não disponível comercialmente. Para isso, é preciso realizar o ajuste da dose. Porém, a perda que ocorre a partir da "quebra" do comprimido pode comprometer a eficácia do tratamento, podendo ocasionar riscos à saúde do paciente.


Quando um comprimido é partido ao meio, não podemos garantir que as partes “quebradas” apresentarão a mesma dose. Essa desigualdade gerada na variação da dose pode afetar a posologia do medicamento, ou seja, a quantidade de medicamento fornecida ao paciente durante um intervalo de tempo (Buttow et al., 2012). 
 

Alguns estudos sugerem que a partição de comprimidos é terapeuticamente desaconselhável. Um estudo conduzido por Buttow e colaboradores (2012), observou perdas significativas de massa em comprimidos diuréticos de hidroclorotiazida após o processo de partição. 
 

Um outro estudo, realizado por Ferreira e colaboradores (2011), avaliou os efeitos da partição de comprimidos de furosemida, medicamento indicado em casos de hipertensão arterial, utilizando cortadores mecânicos de comprimidos. A análise realizada com quatro amostras do comprimido relatou perda de mais de 35% de massa após o fracionamento, produzindo grande quantidade de pequenos fragmentos.


Quando um comprimido é partido pode haver, além da perda de massa, incorporação de umidade e luz em suas partes acelerando então a sua degradação. Outro ponto desfavorável à prática é o aumento da friabilidade, ou seja, a facilidade da perda do pó do comprimido. Alguns medicamentos, como a dipirona, por exemplo, apresentam rápido processo de degradação e, dessa forma, não devem ser partidos (Auricchio et al., 2011). 
 

Uma alternativa à divisão de comprimidos é o uso de medicamentos manipulados, opção válida nos casos em que não estão disponíveis algumas dosagens no mercado, facilitando, por exemplo, o tratamento de crianças e idosos com preparações farmacêuticas adequadas para cada faixa etária e condição fisiológica (Pinto; Barbosa, 2008). Uma outra opção seria modificar a forma farmacêutica, ou seja, alterar a forma como o medicamento será administrado ao paciente. 
 

É importante salientar que nem todo comprimido pode ser partido. Os comprimidos revestidos e os íntegros não sulcados (sem aquela marcação no centro) são difíceis de serem "quebrados", logo, não haverá homogeneidade entre as partes após a partição. Já os comprimidos de liberação entérica, aqueles cujo princípio ativo é liberado no intestino, e comprimidos de liberação prolongada ou controlada, cujo fármaco é liberado de forma gradual e contínua em diferentes locais e tempos, jamais deverão ser partidos. Alguns comprimidos como os não revestidos e os comprimidos sulcados são mais fáceis de serem partidos, porém, a prática só deve ser realizada sob consentimento médico (Vuchetich et al., 2003; Noviasky et al.,2006). 
 

Por fim, quando nenhuma outra opção estiver disponível para administração de medicamentos, além da divisão de comprimidos, pode-se orientar o paciente a realizar a partição de forma cuidadosa, evitando variações e perdas do produto. Para isso, é necessária uma avaliação criteriosa das características do medicamento e do paciente, como forma a assegurar que o comprimido partido estará dentro dos limites de segurança. A orientação é essencial para o sucesso do tratamento. 

Autora: Samanta Costa Machado Silva (aluna de Farmácia)
Revisão: Fernanda Lacerda da Silva Machado
Juliana Givisiéz Valente 
Luisa Arueira Chaves  

Referências Bibliográficas

AURICCHIO, M.T.; YANO, H.M.; SANTOS, AP.; BUGNO, A. Avaliação do teor de Atenolol em comprimidos divididos com faca caseira e aparelho cortador. Acta Paulista de Enfermagem, v.24,n.1, p.74-9, 2011. 
AULTON, M. E. Delineamento de Formas Farmacêuticas, Porto Alegre, Artmed Editora, 2ª ed.,2005.
BUTTOW, A.A.; PRIMO, F.T.; ROCHA, A.S.R.; HERTZOG, G.I.; FERREIRA, M.; NOGUEIRA, B.B. Avaliação do processo de partição em comprimidos de hidroclorotiazida. Revista de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada, v.33,n.4, p. 555-560, 2012.
FERREIRA, A.A.A.; PRATES, E.C.; FERNANDES, J.P.S.; FERRARINI, M. Avaliação do efeito da partição de comprimidos de furosemida sobre a uniformidade da dose. Revista de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada, v.32, n.1, p. 47-53, 2011. 
NOVIASKY, J.; LO, V.; LUFT, D.D.; SASEEN, J. Clinical inquiries. Which medications can be split without compromising efficacy and safety? The Journal of Family Practice, v.55, n.8, p.707-8,2006. 
PINTO, S.; BARBOSA, C.M. Medicamento Manipulados em Pediatria- Estado Atual e Perspectivas Futuras. Arquivos de Medicina, v.22, n.2/3, 2008. 
VUCHETICH, P.J.; GARIS, R.I.; JORGENSEN, A.M. Evaluation of cost savings to a state Medicaid program following a sertraline tablet-splitting program. Journal of American Pharmacists Association, v.43, n.4, p.497-502, 2003. 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Caso queira enviar uma dúvida, utilize nosso Formulário na aba Envie aqui sua pergunta (http://crimufrjmacae.blogspot.com.br/p/envie-aqui-sua-pergunta.html).