O uso de medicamentos por via
oral é considerado uma das formas mais adequadas para administrar-se
um medicamento, sendo segura, econômica e de fácil manipulação e
identificação, portanto, pode ser considerada como uma terapia de
escolha para alguns pacientes (Ferreira et
al., 2012).
Através da via oral podem ser
administradas formulações líquidas e/ou sólidas, sendo que as
mais amplamente utilizadas são comprimidos, cápsulas, suspensões,
soluções e emulsões (Aulton, 2005).
Em relação ao uso de
comprimidos, é comum sua partição. Esta prática consiste na
divisão do comprimido ao meio, seja com o auxílio de faca,
cortadores especiais ou até mesmo com as próprias mãos. Em algumas
situações, esta prática ocorre com consentimento médico. Já em
outros casos, a partição é realizada pelo próprio paciente, como
forma de diminuir os custos com o tratamento uma vez que, em geral,
medicamentos em doses maiores são mais baratos que seus equivalentes
em doses menores (Ferreira et
al., 2012).
A prática de divisão de
comprimidos é aconselhável em casos onde o paciente necessita
utilizar uma dosagem do medicamento não disponível comercialmente.
Para isso, é preciso realizar o ajuste da dose. Porém, a perda que
ocorre a partir da "quebra" do comprimido pode comprometer
a eficácia do tratamento, podendo ocasionar riscos à saúde do
paciente.
Quando um comprimido é
partido ao meio, não podemos garantir que as partes “quebradas”
apresentarão a mesma dose. Essa desigualdade gerada na variação da
dose pode afetar a posologia do medicamento, ou seja, a quantidade de
medicamento fornecida ao paciente durante um intervalo de tempo
(Buttow et
al., 2012).
Alguns estudos sugerem que a
partição de comprimidos é terapeuticamente desaconselhável. Um
estudo conduzido por Buttow e colaboradores (2012), observou perdas
significativas de massa em comprimidos diuréticos de
hidroclorotiazida após o processo de partição.
Um outro estudo, realizado por
Ferreira e colaboradores (2011), avaliou os efeitos da partição de
comprimidos de furosemida, medicamento indicado em casos de
hipertensão arterial, utilizando cortadores mecânicos de
comprimidos. A análise realizada com quatro amostras do comprimido
relatou perda de mais de 35% de massa após o fracionamento,
produzindo grande quantidade de pequenos fragmentos.
Quando um comprimido é
partido pode haver, além da perda de massa, incorporação de
umidade e luz em suas partes acelerando então a sua degradação.
Outro ponto desfavorável à prática é o aumento da friabilidade,
ou seja, a facilidade da perda do pó do comprimido. Alguns
medicamentos, como a dipirona, por exemplo, apresentam rápido
processo de degradação e, dessa forma, não devem ser partidos
(Auricchio et
al., 2011).
Uma alternativa à divisão
de comprimidos é o uso de medicamentos manipulados, opção válida
nos casos em que não estão disponíveis algumas dosagens no
mercado, facilitando, por exemplo, o tratamento de crianças e idosos
com preparações farmacêuticas adequadas para cada faixa etária e
condição fisiológica (Pinto; Barbosa, 2008). Uma outra opção
seria modificar a forma farmacêutica, ou seja, alterar a forma como
o medicamento será administrado ao paciente.
É importante salientar que
nem todo comprimido pode ser partido. Os comprimidos revestidos e os
íntegros não sulcados (sem aquela marcação no centro) são
difíceis de serem "quebrados", logo, não haverá
homogeneidade entre as partes após a partição. Já os comprimidos
de liberação entérica, aqueles cujo princípio ativo é liberado
no intestino, e comprimidos de liberação prolongada ou controlada,
cujo fármaco é liberado de forma gradual e contínua em diferentes
locais e tempos, jamais deverão ser partidos.
Alguns
comprimidos como os não revestidos e os comprimidos sulcados são
mais fáceis de serem partidos, porém, a prática só deve ser
realizada sob consentimento médico (Vuchetich
et
al.,
2003; Noviasky
et
al.,2006).
Por fim, quando nenhuma outra
opção estiver disponível para administração de medicamentos,
além da divisão de comprimidos, pode-se orientar o paciente a
realizar a partição de forma cuidadosa, evitando variações e
perdas do produto. Para isso, é necessária uma avaliação
criteriosa das características do medicamento e do paciente, como
forma a assegurar que o comprimido partido estará dentro dos limites
de segurança. A orientação é essencial para o sucesso do
tratamento.
Autora: Samanta Costa Machado Silva (aluna de Farmácia)
Revisão: Fernanda Lacerda da Silva Machado
Juliana Givisiéz Valente
Luisa Arueira Chaves
Referências Bibliográficas
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SANTOS, AP.; BUGNO, A. Avaliação
do teor de Atenolol em comprimidos divididos com faca caseira e
aparelho cortador.
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