quinta-feira, 5 de junho de 2014

Riscos no uso abusivo dos descongestionantes nasais

A congestão nasal é um problema de saúde que acomete adultos e crianças e caracteriza-se por processos obstrutivos nas vias nasais, induzindo a dificuldades respiratórias, complicações no ouvido, comprometimento no desenvolvimento da fala, além de interferir na qualidade do sono, trazendo enorme desconforto e refletindo negativamente na qualidade de vida do paciente. Existem diversas causas para este quadro clínico, como resfriados, rinite alérgica e não alérgica, sinusite e desvio do septo nasal1. A classe de medicamento mais utilizado no alívio desses sintomas são os descongestionantes nasais, porém o uso abusivo desses medicamentos envolvem implicações perigosas em todo o organismo, incluindo aumento da pressão arterial, dependência psicológica e rinite medicamentosa, sendo o risco maior em hipertensos, cardíacos e crianças2.

A rinite medicamentosa é a uma condição provocada pelo uso incorreto de alguns medicamentos, incluindo os descongestionantes nasais de uso local, também conhecidos como gotas nasais, que quando usado de modo excessivo ou por tempo prolongado induzem a este tipo de rinite. Esta forma de renite não alérgica acarreta agravamento das lesões previamente existentes na mucosa nasal, aumentando os sintomas de congestão nasal, além de induzir espirros excessivos e coriza. O tratamento para rinite medicamentosa é a suspensão do uso do medicamento que a causou. Pacientes que inicialmente não apresentavam nenhuma forma de rinite podem vir a desenvolver rinite medicamentosa induzida por uso abusivo dos descongestionantes nasais2.

Os descongestionantes nasais contendo nafazolina, oximetazolina, clonidina, xilometazolina, tetraidrozolina são mais frequentemente responsáveis por causar dependência do uso e rinite medicamentosa. Quanto mais se usa estes medicamentos, menor é o tempo de ação destes, induzindo o paciente a utilizar o medicamento em um intervalo de tempo a cada vez menor, e assim, se estabelece um ciclo de dependência e exposição progressivamente maior as ações prejudiciais dos mesmos. Essas substâncias contraem os vasos sanguíneos nasais e assim desobstruem as narinas, porém o uso excessivo e a longo prazo levam a contração de diversos outros vasos sanguíneos do organismo, induzindo à arritmias cardíacas e favorecendo o desenvolvimento do quadro de hipertensão arterial, mesmo em pacientes sem doenças pré-existentes, além de também propiciar o aparecimento de outros efeitos negativos como dor de cabeça, dificuldades para dormir, irritação nasal, agitação, espirros excessivos, tremores e retenção urinária. Por este motivo, estes medicamentos são contraindicados à pacientes hipertensos, cardíacos, diabéticos ou portadores de hiperplasia prostática3.

Ademais, os descongestionantes nasais aliviam apenas os sintomas da congestão nasal e o seu uso incorreto, pode inclusive, agravá-los, por isso, recomenda-se que pessoas que frequentemente apresentam congestão nasal procurem ajuda médica para iniciar um tratamento efetivo a esta condição4.

No Brasil, os descongestionantes nasais pertencem à classe de medicamento mais procurado pelos pacientes que buscam a automedicação, representando 7% deste grupo5, sendo, em sua maioria, vendidos sem receita, porém, devido aos inúmeros malefícios trazidos pelo uso excessivo, é importante se conscientizar da relevância do seu uso correto e buscar sempre a orientação do médico e/ou farmacêutico.

Autor: Juliana Givisiéz Valente

Revisão:
Danielle Maria de Souza Sério dos Santos
Danielle Martins Ventura
Fernanda Lacerda da Silva Machado

Referências

1.      Wilson KF, Spector ME, Orlandi RR: Types of rhinitis. Otolaryngol Clin North Am. 2011;44(3):549-59.

2.      Toohill RH, Lehman RJ, TW Grossman, TP Belson. Rhinitis medicamentosa. Laryngoscope. 1981;91(10):1614-21

3.      Knipping S, Holzhausen HJ, Goetze G, Riederer A, Bloching MB. Rhinitis medicamentosa: Electron microscopic changes of human nasal mucosa. Otolaryngol Head Neck Surg. 2007;136(1):57-61

4.      Graf P. Rhinitis medicamentosa: a review of causes and treatment. Treat Respir Med. 2005;4(1):21-9

5.      Vilarino JF, Soares IC, Silveira CM, Rödel APP, Bortoli R, Lemos RR. Perfil da automedicação em município do Sul doBrasil. Ver Saúde Pública 1998;32(1):43-9


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