segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A vitamina C e seus mitos

Muito se fala sobre os benefícios da vitamina C, mas o que já foi realmente comprovado? Como surgiram estas alegações? Certamente o tema é alvo de muitas controvérsias.




Alguns trabalhos têm demonstrado que o envelhecimento e doenças como câncer, Parkinson e Alzheimer apresentam relação direta com a geração de radicais livres formados durante o processo de respiração celular. Portanto, pensou-se que o uso de suplementos de vitaminas com ação antioxidante, como a vitamina C, seria capaz de prevenir estas doenças. Estudos iniciais sugeriram que a vitamina C poderia reduzir a incidência de problemas cardíacos e vasculares (1).

Parece óbvio pensar que se uma vitamina faz bem, uma dose maior irá resultar em um efeito ainda melhor. Mas esta lógica não tem se comprovado.

Infelizmente, estudos controlados realizados com um número maior de pessoas não confirmaram os efeitos benéficos do uso de suplementos de vitamina C na prevenção de doenças. Alguns trabalhos até mesmo revelaram que o uso em excesso por um período prolongado pode até trazer prejuízos (2).

O uso de suplementos de vitaminas C pode reduzir alguns dos efeitos benéficos da atividade física. A explicação para este fenômeno é que a resposta ao exercício, como maior sensibilidade à insulina, depende da formação de radicais livres, a qual é prejudicada pela utilização destes suplementos (3,4).

Um dos usos mais populares da vitamina C é na prevenção de resfriados. Apesar de ser amplamente difundido, os dados disponíveis até o momento não comprovam a eficácia. Comparando-se os resultados de estudos envolvendo 11.350 participantes, observou-se que a ingestão de suplementos contendo pelo menos 200 mg da vitamina não reduziu a incidência de resfriado na população em geral. Entretanto, há indícios de que o suplemento reduz o risco de resfriado pela metade em pessoas expostas a condições físicas extremas como exercício ou frio, incluindo maratonistas e esquiadores (5).

Então, quais seriam os outros grupos de pessoas que poderiam se beneficiar com o uso de vitamina C? Em pacientes com degeneração macular relacionada à idade, um problema que afeta a retina, uma combinação de antioxidantes reduz a progressão da doença. Neste caso, a vitamina C pode ser útil (6).

Além disso, a vitamina C está indicada para o tratamento de sua deficiência. Em geral, este problema ocorre quando a ingestão pela dieta é inadequada, resultando em uma síndrome chamada de escorbuto que caracteriza-se por fragilidade dos vasos sanguíneos, sangramentos, anemia, lesões nos ossos e cartilagens e problemas de cicatrização. Apesar de ter sido comum na época das navegações, atualmente ela é rara, ocorrendo principalmente em crianças, idosos e alcoólatras (7).

A vitamina C é um nutriente importante que deve fazer parte da alimentação, pois os seres humanos não produzem esta substância. Portanto, recomenda-se a ingestão de cerca de 45 mg/dia (8). As principais fontes são frutas como o kiwi, manga, mamão, abacaxi, morango, melancia, acerola, laranja, limão e vegetais como brócolis, espinafre e couve. Porém, o cozimento e armazenamento por tempo prolongado reduzem a disponibilidade da vitamina.

A vitamina C atua em diversas reações no corpo e é essencial para a produção de colágeno e na absorção de ferro. Um fato interessante sobre a absorção pelos intestinos é que esta diminui com o aumento da quantidade de vitamina C, ou seja, uma dose de 100 mg é absorvida completamente enquanto o percentual absorvido para uma dose de 1g é de 50%. Doses elevadas podem causar diarréia, problemas gastrointestinais e maior chance de formação de cálculos renais (7).

Assim, os resultados dos estudos disponíveis até hoje não demonstram que o uso de suplementos de vitamina C resulte em benefícios significativos para a maioria dos problemas testados. Todavia, deve-se lembrar que a ingestão de vitaminas e antioxidantes através da dieta, como parte de um estilo de vida saudável, pode reduzir os sinais e os sintomas do envelhecimento (2).

Você pode conferir o teor de vitamina C e outros nutrientes em diferentes alimentos no site: http://www.unifesp.br/dis/servicos/nutri/public/.


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Referências:
1. Salonen JT, Nyyssönen K, Salonen R, Lakka H-M, Kaikkonen J, Porkkala-Sarataho E, et al. Antioxidant Supplementation in Atherosclerosis Prevention (ASAP) study: a randomized trial of the effect of vitamins E and C on 3-year progression of carotid atherosclerosis. Journal of internal medicine. 2000;248(5):377–86.
2. Little MO, Morley JE. Assessing Antiaging Therapies for Older Adults. In: Williams BA, Chang A, Ahalt C, Chen H, Conant R, Landefeld C, Ritchie C, Yukawa M. eds. Current Diagnosis & Treatment: Geriatrics, Second Edition. New York, NY: McGraw-Hill; 2014.
3. Ristow M, Zarse K, Oberbach A, Klöting N, Birringer M, Kiehntopf M, et al. Antioxidants prevent health-promoting effects of physical exercise in humans. Proceedings of the National Academy of Sciences. 2009;106(21):8665–70.
4. Peternelj T-T, Coombes JS. Antioxidant Supplementation during Exercise Training: Beneficial or Detrimental? Sports Medicine. 2011 Dec;41(12):1043–69.
5. Douglas R, Hemilä H, Chalker E, Treacy B. Cochrane review: Vitamin C for preventing and treating the common cold. Evidence-Based Child Health: A Cochrane Review Journal. 2008 Sep;3(3):672–720.
6. Wannmacher L. Vitamina C: seis problemas em busca de uma solução. [cited 2014 Oct 14]; Available from: http://www.saudedireta.com.br/docsupload/1340027075HSE_URM_VIC_0311.pdf
7. Russell RM, Suter PM. Chapter 74. Vitamin and Trace Mineral Deficiency and Excess. In: Longo DL, Fauci AS, Kasper DL, Hauser SL, Jameson J, Loscalzo J. eds. Harrison's Principles of Internal Medicine, 18e. New York, NY: McGraw-Hill; 2012.
8. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 269, de 22 de setembro de 2005. O “REGULAMENTO TÉCNICO SOBRE A INGESTÃO DIÁRIA RECOMENDADA (IDR) DE PROTEÍNA, VITAMINAS E MINERAIS”. ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária, de 23 de setembro de 2005.
9. Vitamin C. In: Martindale [database on the Internet]. Ann Arbor (MI): Truven Health Analytics; 2014. Disponível em: www.micromedexsolutions.com (acesso em 15/10/2014).

Autora: Fernanda Lacerda da Silva Machado (Farmacêutica)
Revisão:
Danielle Martins Ventura
Juliana Givisiéz Valente

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