Muito
se fala sobre os benefícios da vitamina C, mas o que já foi
realmente comprovado? Como surgiram estas alegações? Certamente o
tema é alvo de muitas controvérsias.
Alguns
trabalhos têm demonstrado que o envelhecimento e doenças como
câncer, Parkinson e Alzheimer apresentam relação direta com a
geração de radicais livres formados durante o processo de
respiração celular. Portanto, pensou-se que o uso de suplementos de
vitaminas com ação antioxidante, como a vitamina C, seria capaz de
prevenir estas doenças. Estudos iniciais sugeriram que a vitamina C
poderia reduzir a incidência de problemas cardíacos e vasculares
(1).
Parece
óbvio pensar que se uma vitamina faz bem, uma dose maior irá
resultar em um efeito ainda melhor. Mas esta lógica não tem se
comprovado.
Infelizmente,
estudos controlados realizados com um número maior de pessoas não
confirmaram os efeitos benéficos do uso de suplementos de vitamina C
na prevenção de doenças. Alguns trabalhos até mesmo revelaram que
o uso em excesso por um período prolongado pode até trazer
prejuízos (2).
O
uso de suplementos de vitaminas C pode reduzir alguns dos efeitos
benéficos da atividade física. A explicação para este fenômeno é
que a resposta ao exercício, como maior sensibilidade à insulina,
depende da formação de radicais livres, a qual é prejudicada pela
utilização destes suplementos (3,4).
Um
dos usos mais populares da vitamina C é na prevenção de
resfriados. Apesar de ser amplamente difundido, os dados disponíveis
até o momento não comprovam a eficácia. Comparando-se os
resultados de estudos envolvendo 11.350 participantes, observou-se
que a ingestão de suplementos contendo pelo menos 200 mg da vitamina
não reduziu a incidência de resfriado na população em geral.
Entretanto, há indícios de que o suplemento reduz o risco de
resfriado pela metade em pessoas expostas a condições físicas
extremas como exercício ou frio, incluindo maratonistas e
esquiadores (5).
Então,
quais seriam os outros grupos de pessoas que poderiam se beneficiar
com o uso de vitamina C? Em pacientes com degeneração macular
relacionada à idade, um problema que afeta a retina, uma combinação
de antioxidantes reduz a progressão da doença. Neste caso, a
vitamina C pode ser útil (6).
Além
disso, a vitamina C está indicada para o tratamento de sua
deficiência. Em geral, este problema ocorre quando a ingestão pela
dieta é inadequada, resultando em uma síndrome chamada de escorbuto
que caracteriza-se por fragilidade dos vasos sanguíneos,
sangramentos, anemia, lesões nos ossos e cartilagens e problemas de
cicatrização. Apesar de ter sido comum na época das navegações,
atualmente ela é rara, ocorrendo principalmente em crianças, idosos
e alcoólatras (7).
A
vitamina C é um nutriente importante que deve fazer parte da
alimentação, pois os seres humanos não produzem esta substância.
Portanto, recomenda-se a ingestão de cerca de 45 mg/dia (8). As
principais fontes são frutas como o kiwi, manga, mamão, abacaxi,
morango, melancia, acerola, laranja, limão e vegetais como brócolis,
espinafre e couve. Porém, o cozimento e armazenamento por tempo
prolongado reduzem a disponibilidade da vitamina.
A
vitamina C atua em diversas reações no corpo e é essencial para a
produção de colágeno e na absorção de ferro. Um fato
interessante sobre a absorção pelos intestinos é que esta diminui
com o aumento da quantidade de vitamina C, ou seja, uma dose de 100
mg é absorvida completamente enquanto o percentual absorvido para
uma dose de 1g é de 50%. Doses elevadas podem causar diarréia,
problemas gastrointestinais e maior chance de formação de cálculos
renais (7).
Assim,
os resultados dos estudos disponíveis até hoje não demonstram que
o uso de suplementos de vitamina C resulte em benefícios
significativos para a maioria dos problemas testados. Todavia,
deve-se lembrar que a ingestão de vitaminas e antioxidantes através
da dieta, como parte de um estilo de vida saudável, pode reduzir os
sinais e os sintomas do envelhecimento (2).
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Referências:
1. Salonen JT, Nyyssönen
K, Salonen R, Lakka H-M, Kaikkonen J, Porkkala-Sarataho E, et al.
Antioxidant Supplementation in Atherosclerosis Prevention (ASAP)
study: a randomized trial of the effect of vitamins E and C on 3-year
progression of carotid atherosclerosis. Journal of internal medicine.
2000;248(5):377–86.
2. Little
MO, Morley JE. Assessing Antiaging Therapies for Older Adults. In:
Williams BA, Chang A, Ahalt C, Chen H, Conant R, Landefeld C, Ritchie
C, Yukawa M. eds. Current
Diagnosis & Treatment: Geriatrics, Second Edition.
New
York, NY: McGraw-Hill; 2014.
3. Ristow M, Zarse K,
Oberbach A, Klöting N, Birringer M, Kiehntopf M, et al. Antioxidants
prevent health-promoting effects of physical exercise in humans.
Proceedings of the National Academy of Sciences.
2009;106(21):8665–70.
4. Peternelj T-T, Coombes
JS. Antioxidant Supplementation during Exercise Training: Beneficial
or Detrimental? Sports Medicine. 2011 Dec;41(12):1043–69.
5.
Douglas R, Hemilä H, Chalker E, Treacy B.
Cochrane review: Vitamin C for preventing and treating the common
cold. Evidence-Based Child Health: A Cochrane Review Journal. 2008
Sep;3(3):672–720.
6. Wannmacher L. Vitamina
C: seis problemas em busca de uma solução. [cited 2014 Oct 14];
Available from:
http://www.saudedireta.com.br/docsupload/1340027075HSE_URM_VIC_0311.pdf
7.
Russell
RM, Suter PM. Chapter 74. Vitamin and Trace Mineral Deficiency and
Excess. In: Longo DL, Fauci AS, Kasper DL, Hauser SL, Jameson J,
Loscalzo J. eds. Harrison's
Principles of Internal Medicine, 18e.
New
York, NY: McGraw-Hill; 2012.
8.
Brasil.
Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Resolução RDC nº 269, de 22 de setembro de 2005. O “REGULAMENTO
TÉCNICO SOBRE A INGESTÃO DIÁRIA RECOMENDADA (IDR) DE PROTEÍNA,
VITAMINAS E MINERAIS”. ANVISA - Agência Nacional de Vigilância
Sanitária, de 23 de setembro de 2005.
9.
Vitamin
C.
In: Martindale [database on the Internet]. Ann Arbor (MI): Truven
Health Analytics; 2014.
Disponível em: www.micromedexsolutions.com
(acesso
em
15/10/2014).
Autora: Fernanda Lacerda da Silva Machado (Farmacêutica)
Revisão:
Danielle Martins Ventura
Juliana Givisiéz Valente
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