A infestação de piolhos (pediculose) é causada pelo Pediculus
humanus capitis (piolho do couro cabeludo) e pelo Pediculus humanus corporis
(piolho do corpo), mais frequente na Europa, com pouca incidência no Brasil. O
piolho do couro cabeludo é muito comum entre crianças e em ambientes escolares.
No Brasil, a incidência em comunidades carentes pode chegar a 40%, sendo ainda
mais prevalente em crianças de idade escolar (Wilcke et al., 2002).
O piolho capilar se aloja apenas em cabeças e se alimenta do
sangue do hospedeiro e já foi encontrado em diversos climas, países e
diferentes momentos da história, tendo sido, inclusive, descrito em múmias
egípcias de 5.000 anos atrás. A
transmissão dos piolhos ocorre de cabeça a cabeça, sendo necessário um
contato repetido e prolongado para atingir taxas de transmissão significantes
(Canyon et al., 2002). A transmissão em escolas ocorre mais frequentemente
entre os amigos mais próximos (Burgess, 1995).
Os principais sintomas da pediculose são coceira intensa e
irritação do couro cabeludo, podendo surgir lesões na nuca, acima e atrás das
orelhas, acompanhadas nos casos mais graves de aumento dos gânglios linfáticos
(ínguas). Devido à coceira intensa, crianças infectadas podem apresentar
distúrbios do sono e dificuldade de concentração, o que pode resultar em baixo
desempenho escolar. Crianças com infestação severa também podem desenvolver
anemia devido à perda de sangue decorrente da presença do parasita (Linardi,
2002). Adicionalmente, a coceira intensa pode provocar feridas na cabeça,
facilitando a entrada de fungos e bactérias, o que pode gerar outros problemas
à saúde, como micoses, infecções bacterianas, etc.
Ao contrário do que
muitos pensam o piolho não pula nem voa, apenas anda. Passa de pessoa para
pessoa, por contato de um cabelo com o outro, por isso, é interessante manter
os cabelos curtos ou presos durante infestações de piolhos. Também não existe
relação entre higiene e presença de piolhos, o parasita infecta tanto cabeças
limpas quanto sujas.
Uma vez detectadas a presença de piolhos ou lêndeas (ovos)
em uma pessoa, todos que moram na mesma casa ou tenham contato direto com o
indivíduo, devem utilizar pentes finos. Isto evitará a transmissão e a ocorrência
de novas infestações. Assim, o tratamento necessário para a pediculose é sempre
um tratamento em grupo.
Vejamos agora, dicas sobre formas de tratamentos da
pediculose:
Pente Fino
A utilização do pente fino é importante por ajudar a
eliminar tanto as lêndeas quanto piolhos adultos. É normalmente associado com
outras formas de tratamento, como xampu, vinagre e secador de cabelo. Deve ser
usado diariamente até o fim da infestação.
Calor
O secador de cabelo ajuda no tratamento, uma vez que
temperaturas altas levam a morte do parasita. Recomenda-se secar os cabelos
diariamente com a ajuda de secadores de cabelo durante infestações.
Vinagre
O vinagre, misturado com água (duas partes de água para uma
de vinagre), facilita a retirada de piolhos e lêndeas durante a utilização do
pente fino.
Medicamentos
São comercializados cremes, xampus e loções com ação medicamentosa antipiolhos,
deve-se conversar com o médico ou pediatra sobre a utilização dos mesmos. Estes
produtos, em sua maioria, são eficazes contra o piolho, mas não contra lêndeas,
por isso deve-se utilizar o pente fino paralelamente. Leia sempre a bula e siga
as instruções com cuidado. Existem casos de resistência à ação desses produtos,
por isso, se após seguir todos os passos e recomendações, não obtiver sucesso,
converse com médico ou pediatra para a substituição do tratamento. Existe
também tratamento com comprimido de uso
oral que deve ser prescrito pelo médico.
Sufocamento do piolho de forma caseira
Uma forma caseira e econômica que ajuda no tratamento é o sufocamento dos
piolhos, este método consiste em tampar a respiração do parasita, o levando a
morte. Após lavar o cabelo, deve-se
aplicar bastante condicionador e massagear para facilitar o aparecimento de
espuma, ou ainda, usar apenas óleo de cozinha ou azeite de oliva. O condicionador
e o óleo facilitam a retirada das lêndeas que estão aderidas aos fios de
cabelo. Deve-se embeber completamente os cabelos e abafar, utilizando uma touca
plástica ou de borracha e manter a touca por pelo menos 2 horas. Após a
retirada da touca, lavar novamente o cabelo, desembaraçar com pente comum e em
seguida, pentear com o pente fino, secar e inspecionar. Esse tratamento
deve ser complementar, porque não é eficaz contra as lêndeas. Recomenda-se
repetir a cada 2 ou 3 dias, até o término da infestação e utilizar também o
pente fino diariamente.
Não utilize remédios, xampus ou loções que não tenham sido
prescritos pelo médico, nem algumas
soluções caseiras, que além de não possuir eficácia comprovada, podem ser
extremamente tóxicas e provocar danos sérios à saúde. Procure sempre orientação
do médico e/ou farmacêutico.
.
Referências
BURGESS, I. F., 1995. Human lice and their management.
Advances in Parasitology, 36:271 342.
CANYON, D. V.; SPEARE, R. & MULLER, R., 2002. Spatial
and kinetic factors for the transfer of head lice (Pediculus capitis) between
hairs. Journal of Investigative Dermatology, 119:629-631.
LINARDI, P. M., 2002. Anoplura. In: Parasitologia Humana (D.
P. Neves, A L. Melo, O. Genaro & P. M. Linardi, org.), pp. 368-372, São
Paulo: Editora Atheneu.
autor: Juliana Givisiéz Valente
revisão: Danielle Santos
Danielle Ventura
Fernanda Lacerda
Li em alguns lugares que não há confirmação de eficácia de sufocamento caseiro dos piolhos. Procede essa informação? Estou querendo saber pra atualizar corretamente o conteúdo do meu site sobre piolhos. Agradeço a atenção.
ResponderExcluirRealmente não ainda não há evidências claras da eficácia do uso de agentes oclusivos. Entretanto, há alguns estudos pequenos que sugerem que pode haver algum benefício do uso de produtos como dimeticona ou vaselina, por exemplo. Dentre as explicações para o efeito é que estes produtos possam reduzir o movimento das formas adultas facilitando sua remoção ou ainda que o aumento na frequência de lavagens para retirada destes produtos favoreça a retirada dos piolhos.
ExcluirReferências:
Burgess IF, Silverston P. Head Lice. BMJ Clinical Evidence. 2015; 01: 1703. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4294162/pdf/2015-1703.pdf. Acesso em 03 out. 2017.
Burkhart CN, Burkhart CG. Chapter 208. Scabies, Other Mites, and Pediculosis. In: Goldsmith LA, Katz SI, Gilchrest BA, Paller AS, Leffell DJ, Wolff K. eds. Fitzpatrick's Dermatology in General Medicine, 8e New York, NY: McGraw-Hill; 2012. Disponível em: http://accessmedicine.mhmedical.com/content.aspx?bookid=392§ionid=41138939. Acesso em 03 out. 2017.
Frankowski BL, Bocchini JA Jr. Council on School Health and Committee on Infectious Diseases. Head lice. Pediatrics. 2010 ;126(2):392-403.