quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Acne: por quê e como tratar

Se você já passou pela adolescência, é bem provável que tenha enfrentado algum grau de desconforto causado pela acne. 

O problema atinge aproximadamente 85% dos adolescentes e diminui gradativamente na idade adulta. Entretanto, em algumas pessoas pode persistir até a terceira década de vida, principalmente em mulheres (1). 

Não se trata de um problema puramente estético, a acne pode prejudicar a qualidade de vida, as relações sociais e o desempenho tanto no trabalho como na escola.



Em termos simples, a acne começa quando o poro é obstruído por um excesso de queratina, um tipo de proteína da pele, e sebo, material gorduroso. Além disso, bactérias presentes normalmente na pele (Propionibacterium acnes) se desenvolvem mais facilmente neste meio e, juntamente com o material retido, provocam uma reação inflamatória. Para a maioria das pessoas, esta inflamação é branda. Entretanto, em alguns casos podem surgir nódulos maiores que ao romperem provocam cicatrizes (2). 

A face é o local mais comum de ser atingido, assim como as costas e a região do peito. Tanto fatores externos como internos podem promover ou piorar a ocorrência de lesões. 

As alterações hormonais influenciam diretamente a acne. Em mulheres com uma produção exagerada de hormônios masculinos, por exemplo, a acne pode ser acompanhada de alterações na voz, ciclos menstruais irregulares e crescimento excessivo de pelos (1).

O uso de cosméticos que obstruem os poros e de anti-inflamatórios da classe dos glicocorticoides, como betametasona, dexametasona, dentre outros, também pode desencadear ou piorar a acne. O mesmo é válido para alguns medicamentos utilizados por via oral como, lítio, isoniazida, fenitoína e fenobarbital. 

Certamente o debate é grande quando se trata de alimentação e acne. Entretanto, ainda são necessários mais estudos para avaliar o impacto da dieta no tratamento da acne (1,3). Assim, o chocolate ainda não foi colocado em definitivo no banco dos réus.

Por que é importante tratar a acne?

O tratamento justifica-se pelo risco de surgimento de marcas permanentes e também para evitar o agravamento de problemas de autoestima causados pelas lesões. A avaliação médica é importante para verificar se existem outros problemas associados.

O primeiro cuidado a ser tomado é manter a região limpa. No entanto, não é recomendado limpar ou esfregar excessivamente, pois estas ações podem irritar a pele. O uso de sabonetes com agentes antiacne, como o peróxido de benzoíla ou ácido salicílico, também podem ser empregados na limpeza. 

De acordo com o grau das lesões, o tratamento pode ser local ou sistêmico. Em geral, o tratamento da acne leve se inicia com o uso de preparações de uso tópico contendo peróxido de benzoíla ou derivados do ácido retinoico (como isotretinoína ou adapaleno), isoladamente ou associados a antibióticos, como clindamicina ou eritromicina. No mercado, ainda estão disponíveis preparações contendo ácido salicílico e enxofre.

Para a acne moderada a severa, podem ser empregados, juntamente com os produtos de uso local, antibióticos por via oral, como a doxiciclina e minociclina. Em mulheres, os agentes hormonais, como alguns anticoncepcionais, representam uma alternativa importante. 

Derivados do ácido retinoico por via oral: quem deve utilizar?

Devido ao potencial de reações adversas e ao risco de problemas de formação do bebê durante a gravidez, o Ministério da Saúde recomenda que somente os casos mais graves e que não tiveram uma resposta adequada aos outros tratamentos utilizem a isotretinoína. É necessário ainda que o paciente siga uma série de cuidados (4). 

Nas mulheres com possibilidade de engravidar, recomenda-se o uso de pelo menos dois métodos anticoncepcionais desde 2 meses antes do início do tratamento até 1 mês após seu final. Deve-se fazer o teste de gravidez antes de começar a usar a isotretinoína e mensalmente até 5 semanas após o término (4).

Vale ressaltar que o paciente ou seu responsável deve ser informado de todos os riscos, benefícios e efeitos adversos relacionados ao uso deste medicamento, registrada através de assinatura do Termo de Esclarecimento e Responsabilidade. É importante não só ler o termo, mas principalmente compreender bem todos os ítens. Caso haja alguma dúvida, é importante deixar a timidez de lado e fazer perguntas para garantir o uso de forma correta, com todos os cuidados necessários.

E você? Tem alguma dúvida sobre um medicamento utilizado para acne? Envie sua pergunta através de nosso formulário.


Referências:
1. ZAENGLEIN, Andrea L.; GRABER, Emmy M.; THIBOUTOT, Diane M. Chapter 80. Acne Vulgaris and Acneiform Eruptions. In: GOLDSMITH, Lowell A.; KATZ, Stephen I.; GILCHREST, Barbara A.; et al (Orgs.). Fitzpatrick’s Dermatology in General Medicine, 8e. New York, NY: The McGraw-Hill Companies, 2012. 
2. LAWLEY, Leslie P.; MCCALL, Calvin O.; LAWLEY, Thomas J. Eczema, Psoriasis, Cutaneous Infections, Acne, and Other Common Skin Disorders. In: KASPER, Dennis; FAUCI, Anthony; HAUSER, Stephen; et al (Orgs.). Harrison’s Principles of Internal Medicine, 19e. New York, NY: McGraw-Hill Education, 2015. 
3. Micromedex Acne vulgaris - DISEASEDEX™ General Medicine Clinical Review
DISEASEDEX™ - General Medicine. Thomson Micromedex, Greenwood Village, Colorado. Disponível em <http://www-micromedexsolutions-com.ez29.periodicos.capes.gov.br/>. Acesso em: 19 de agosto de 2015.
4. MINISTÉRIO DA SÁUDE; SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE. Portaria no. 1159 de 18 de novembro de 2015 - Aprova o protocolo de uso da isotretinoína no tratamento da acne grave. Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2015/novembro/20/PT--SAS-PCDT-Acne-Grave-ATUALIZADO-10-11-2015.pdf>.

Autora: Fernanda Lacerda da Silva Machado (Farmacêutica)

Revisão:
Danielle Maria de Souza Sério dos Santos
Juliana Givisiéz Valente
Samantha Monteiro Martins

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