O uso off label e indiscriminado da semaglutina na população mundial

 

A semaglutida tem estado em pauta no Brasil e no mundo, por conta do seu uso indiscriminado pela população, visando o emagrecimento. Existem três medicamentos registrados no Brasil, com o fármaco semaglutida: Ozempic®, Rybelsus® e mais recentemente, o Wegovy®. O fabricante dos três medicamentos é a indústria Novo Nordisk. A semaglutida foi aprovada pela Anvisa em 2018 para o tratamento do diabetes tipo 2 (Ozempic) para pacientes não responsivos a dieta e exercício físicos, na indicação de no máximo de 1 mg por dia  Devido aos bons resultados observados na perda de peso, o medicamento começou a ser utilizado de forma “off label” (não possuindo indicação na bula) para pessoas acima do peso ou com obesidade não diagnosticadas com diabetes tipo 2. Muitas pessoas que teriam o desejo de emagrecer, começaram a utilizar o Ozempic por conta própria e de forma indiscriminada, sem nenhuma prescrição ou indicação médica. Em outros casos, havia muitos médicos que já estavam prescrevendo o Ozempic, de forma off label, para pacientes acima do peso ou já obesos

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A semaglutida possui a função de imitar a atividade um hormônio produzido naturalmente pelo corpo humano nos intestinos, conhecido como peptídeo análogo ao glucagon 1 ou, popularmente, GLP-1. A liberação desse hormônio e a ativação dos receptores de GLP-1 aumentam a liberação de insulina, o que leva a uma diminuição nos níveis de glicose no sangue, desempenhando um papel crucial no tratamento da diabetes. Além disso, a sinalização promovida pelo GLP-1 pode retardar o esvaziamento do estômago, prolongando a permanência dos alimentos no mesmo, o que resulta em uma sensação prolongada de saciedade e na redução do apetite. Como consequência, observa-se uma diminuição na sensação de fome e na ingestão de calorias ao longo do tratamento (UFRGS, 2023).

Depois de muitas discussões, usos off label e testes, o uso da semaglutida para o tratamento da obesidade foi aprovado em 2021 nos Estados Unidos e, em 2 de janeiro de 2023, no Brasil, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) com o mesmo fim, sendo o medicamento conhecido pelo nome comercial de Wegovy. Desde então, consta na bula que o mesmo possui indicação terapêutica como adjuvante ao emagrecimento juntamente com a realização de dieta e a prática de exercícios físicos. É importante evidenciar que este medicamento recebeu liberação de uso para o tratamento da obesidade e do sobrepeso para pacientes que apresentam alguma outra condição de saúde associada, como pré-diabetes, diabetes e doenças cardiovasculares. Porém, o que é observado na realidade, é a ampla utilização e prescrição deste fármaco para indivíduos que não se enquadram nestes critérios e que buscam apenas satisfazer seus ideais estéticos. No Brasil, o medicamento pode ser prescrito para adolescentes com idade igual ou maior a 12 anos que atendam aos critérios citados. Já o Ozempic e o Rybelsus, continuam possuindo indicação terapêutica apenas como adjuvante à dieta e exercícios físicos para melhorar o controle glicêmico em adultos com diabetes mellitus tipo 2. É importante destacar que todos estes medicamentos estão sujeitos à prescrição médica. 

O uso desses fármacos tornou-se tão difundido e amplamente aceito que, em muitos países, o aumento nas vendas resultou em escassez desses produtos nas farmácias e instituições de saúde. Inúmeras pessoas famosas falam abertamente, em suas redes sociais, que fazem o uso de semaglutida para o emagrecimento, simplesmente por não se sentirem parte de um padrão de beleza, e isso acaba influenciando milhares de pessoas anônimas a aderirem o uso indiscriminado desses medicamentos também, sem prescrição ou  acompanhamento médico. Criou-se a ideia, em boa parte da população usuária de semaglutida, que o mesmo é um medicamento milagroso, que fará as pessoas emagrecerem sem precisarem fazer uma dieta balanceada e exercícios físicos regulares, que apenas tomar o medicamento já seria o suficiente para atingirem o corpo que almejam, sem ter nenhuma consequência para a saúde, entretanto, essa não é a realidade. 

A semaglutida pode possuir inúmeros efeitos adversos, como náusea, vômito, desidratação, diarreia e obstipação. Além disso, ocorrências de pancreatite aguda e inflamação ou formação de cálculos na vesícula biliar também foram documentadas em estudos que envolveram este medicamento. Além disso, este fármaco pode interagir com outros medicamentos, modificando seu efeito. Complicações podem surgir mesmo após o término do tratamento, uma vez que pacientes que experimentaram uma redução contínua na ingestão diária de calorias podem enfrentar um aumento da sensação de fome com a diminuição dos níveis do medicamento no organismo.

Um fenômeno notável associado ao uso de Ozempic é o chamado "Ozempic face" ou “rosto de Ozempic”, que é caracterizado pelo rosto dos seus usuários com a aparência flácida ou, até mesmo, com aspecto envelhecido. Farmacêuticos e médicos especialistas explicam que essa condição não está ligada diretamente ao uso do medicamento em si, mas sim à rápida perda de peso causada pelo tratamento com o mesmo. A diminuição da gordura facial e, por vezes, da musculatura facial, resulta no que foi apelidado de "Ozempic face". A perda de peso acelerada pode levar à redução do tecido adiposo, perda de colágeno e elastina, tornando a pele mais propensa a rugas e flacidez.

Sendo assim, a abordagem ideal para um emagrecimento eficaz e saudável é baseada em exercícios físicos e uma dieta balanceada. Essa estratégia promove uma mudança de estilo de vida sustentável e duradoura, em vez de depender exclusivamente de medicamentos como a semaglutida, que podem ter efeitos adversos e limitações de longo prazo. Além disso, adotar hábitos saudáveis de alimentação e exercício físico não apenas contribui para a perda de peso, mas também promove uma melhor autoestima, autoconfiança, bem-estar e prevenção de diversas doenças Ao contrário dos medicamentos, que podem oferecer soluções temporárias, um estilo de vida saudável oferece benefícios a longo prazo para a saúde física e mental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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