sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Calor, suor e fungos: o verão e a pitiríase versicolor

O nome parece estranho, mas o problema é bem popular. Conhecida como pano branco ou micose de praia, a pitiríase versicolor ou tinha versicolor nada mais é do que uma das infecções de pele causada por fungos. Com a chegada do verão, o calor e o suor acabam favorecendo seu aparecimento.


A pitiríase versicolor é uma condição comum, benigna, causada por fungos do gênero Malassezia que atinge a parte superficial da pele. Há surgimento de manchas descamativas que podem ser esbranquiçadas ou com coloração variando de vermelho a marrom que, em geral, afetam regiões do corpo mais oleosas, como o tronco, pescoço e parte superior dos braços. Algumas pessoas relatam uma coceira moderada. 






Muitas vezes, o problema só é percebido após exposição ao sol pois a área afetada não fica bronzeada. Daí surgiu o nome micose de praia. Entretanto, a contaminação não ocorre na praia e o problema não é considerado contagioso pois o fungo causador está normalmente presente na nossa pele.

Além de não ser contagiosa, a pitiríase versicolor não é causada por má higiene. A alteração do fungo de sua forma normalmente presente na pele para a forma patológica, que causa as manchas na pele, depende de fatores tanto externos como internos. As condições externas que favorecem este processo são alta termperatura, umidade, suor associado à atividade esportiva e aplicação de loções ou cremes que obstruam os poros da pele. Já os fatores internos incluem a idade adulta, predisposição genética, desnutrição, gravidez e diminuição da imunidade causada por medicamentos, como corticosteroides ou outros agentes imunossupressores e doenças como linfomas e infecção por HIV.

O diagnóstico é confirmado pela análise da escama da pele afetada onde são observados ao microscópio elementos fúngicos com uma aparência característica de espaguete-e-almôndegas.

A cura espontânea da pitiríase versicolor é incomum, isto é, se não for tratada, as manchas  podem persistir por anos. Mas, felizmente, as opções de tratamento são seguras e eficazes. Em geral, são usados produtos de uso tópico, ou seja, formulações aplicadas diretamente sobre a área afetada por um período de 2 a  4 semanas.

O tratamento com produtos de uso tópico são a primeira escolha em todas as faixas etárias. Podem ser empregados diversos agentes antifúngicos como piritionato de zinco, sulfeto de selênio, terbinafina, ciclopirox, cetoconazol, clotrimazol e miconazol. A aplicação deve ser feita em todo o pescoço, tronco, braços e pernas até os joelhos, mesmo que pequenas áreas estejam atingidas. 

Em termos de eficácia, ao que parece, não há diferença entre estes tratamentos, porém, deve-se escolher a formulação mais adequada de acordo com a área atingida. Por exemplo: para a pele que contém pelos, loções, xampus e soluções são melhores que cremes.

O tratamento com medicamentos de uso oral só está indicado para pacientes com lesões extensas ou em pessoas nas quais os produtos de uso tópico não foram eficientes. Nestes casos, os antifúngicos da classe dos azólicos como o cetoconazol, fluconazol e itraconazol são os medicamentos preferenciais.

Caso sejam empregados, alguns cuidados são desejáveis. Como o cetoconazol é absorvido melhor em ambiente ácido, recomenda-se que seja usado com uma bebida gaseificada. Além disso, as pessoas que fazem atividade física devem tomar o antifúngico 45 minutos antes de se exercitarem e depois devem esperar algumas horas para tomar banho, pois desta forma a distribuição do medicamento ao local de ação na parte externa da pele é maior. 

Geralmente, o período de tratamento com estes antifúngicos de uso oral é curto e os efeitos adversos não são comuns. Entretanto, podem ocorrer náuseas, vômitos e problemas no fígado, principalmente com o cetoconazol. Por conta do risco, este último é contraindicado em pessoas com doenças no fígado. Aliás, a agência norte-americana FDA recomenda o uso oral de cetoconazol somente em casos onde não existem outras opções de antifúngicos disponíveis ou quando os potenciais benefícios superam os riscos.

Vale ainda ressaltar que em algumas pessoas, a pitiríase versicolor pode se repetir várias vezes, principalmente nos meses de verão. Assim, uma estratégia para prevenção é o uso de sulfeto de selênio na pele no primeiro e terceiro dia do mês durante os períodos do ano mais quentes. O uso de medicamentos de uso oral também pode ser uma opção para prevenção que pode ser discutida com o médico.

Finalmente, cabe destacar que ainda que o tratamento seja correto, a alteração na coloração da pele pode demorar 6 semanas ou mais para voltar ao normal, ou seja, embora o fungo tenha sido controlado, ainda podem existir manchas. Nestes casos, a fototerapia com raio ultravioleta do tipo B (UV-B), realizada em clínicas especializadas três vezes por semana, pode ser aplicada após a confirmação da eliminação do fungo. A coloração da pele volta ao normal dentro de 3 semanas após o início da terapia com UV.

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Referências:
1. BERGER, T. G. Dermatologic Disorders. In: PAPADAKIS, M. A.; MCPHEE, S. J.; RABOW, M. W. (Org.). . Current Medical Diagnosis & Treatment 2015. New York, NY: McGraw-Hill Education, 2014. . Disponível em: <http://mhmedical.com/content.aspx?aid=1101592591>. Acesso em: 5 dez. 2014. 
2. DYNAMED. Tinea versicolor: DynaMed. Disponível em: <http://web.a.ebscohost.com/dynamed/detail?vid=7&sid=8ac0c152-334d-4898-81e2-57130373c74a%40sessionmgr4001&hid=4107&bdata=Jmxhbmc9cHQtYnImc2l0ZT1keW5hbWVkLWxpdmUmc2NvcGU9c2l0ZQ%3d%3d#db=dme&AN=114485&anchor=Description>. Acesso em: 2 dez. 2014. 
3. MEDSCAPE. Tinea Versicolor. 21 jul. 2014. Disponível em: <http://emedicine.medscape.com/article/1091575-overview>. Acesso em: 2 dez. 2014.
4. SWICK, B. L. Pitiríase versicolor. Disponível em: <http://brasil.bestpractice.bmj.com/best-practice/monograph/861.html>. Acesso em: 2 dez. 2014. 

Autora: Fernanda Lacerda da Silva Machado (Farmacêutica)

Revisão:
Danielle Maria de Souza Sério dos Santos
Juliana Givisiéz Valente

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