quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Pastilhas para voz e garganta

Tosse e irritação de garganta são eventos frequentes entre pessoas de ambos os sexos, idades e classes sociais e podem ser causados por agentes infecciosos ou irritativos (1). É muito comum o uso de pastilhas para o alívio destes sintomas, no entanto, será esta a melhor solução?

Existem diversas formulações de pastilhas no mercado, com efeitos terapêuticos diferenciados, algumas, por exemplo, possuem ação antimicrobiana, enquanto outras possuem apenas ação anestésica ou anti-inflamatória (2). Então, primeiramente, devemos identificar qual o fator está acarretando os problemas relacionados para, assim, escolher a pastilha ideal.


Infecções virais ou bacterianas podem acarretar gripes e resfriados, e nestes casos, as pastilhas podem ser um importante complemento no tratamento, uma vez que atuam no manejo dos sintomas e proporcionam alívio ao paciente. No entanto, o efeito anestésico das pastilhas pode mascarar quadros de infecções mais graves, por isso é importante consultar o médico para obtenção do tratamento correto (3).

Os quadros de tosse, dor e irritação de garganta também podem ser decorrentes de fatores irritativos, e nestes casos, as pastilhas podem contribuir no alívio dos sintomas. No entanto, é interessante escolher uma formulação que não contenha substâncias antimicrobianas, uma vez que o uso desnecessário destas pode contribuir para o aumento da resistência bacteriana aos tratamentos medicamentosos, podendo acarretar na falha da terapêutica contra infecções (4).

Também devemos tomar cuidado na utilização das pastilhas para o tratamento da tosse. A tosse representa um importante mecanismo de defesa do organismo e sinaliza a presença de inflamações, infecções ou irritações nas vias aéreas e pulmão, sendo sempre importante investigar sua causa para detectar outros possíveis problemas de saúde. O uso de medicamentos contra tosse como pastilhas e xaropes sem orientação médica pode mascarar uma doença mais grave (3).

Além de que, o uso vocal excessivo, principalmente, por pessoas que utilizam a voz mais intensamente, como cantores e professores, pode afetar a saúde vocal, levando a irritação, tosse e disfonia, ou seja, alterações na produção da voz e as pastilhas podem contribuir no alívio desses sintomas. Porém, o uso excessivo pode agravar o problema, uma vez que, o efeito anestésico causado pelas pastilhas pode incentivar a continuação do uso excessivo da voz, em vez de conceder descanso às pregas vocais, importante para a manutenção da saúde. A rouquidão pode ser sintoma de diversas doenças do aparelho fonorrespiratório, incluindo câncer de laringe, e ao ser mascarada pelo uso de pastilhas que aliviam sua manifestação, pode atrasar o correto diagnóstico e tratamento de doenças que, em estágio avançado, podem exigir até mesmo cirurgias para controle (5).

Ademais, muitas vezes existem estratégias mais simples para o manejo dos sintomas, dispensando o uso de medicamentos. O fumo e o álcool, por exemplo, podem causar irritação na garganta, sendo recomendada a suspensão de ambos. Outro fator é o uso constante do ar-condicionado que pode causar ressecamento das cordas vocais, gerando irritações na garganta, porém, este quadro pode ser facilmente aliviado com pequenos goles de água em temperatura ambiente de 15 em 15 minutos, sem necessidade de medicamentos (4).

A persistência de sintomas como dor ao engolir, rouquidão, ardência, dor ao falar ou cansaço vocal deve ser investigada por fonoaudiólogo e/ou médico. Estes profissionais são habilitados a investigar as causas do problema e a indicar as condutas adequadas para cada caso. Estas situações devem ser tratadas individualmente, ou seja, mesmo que uma pessoa muito próxima e que exerça atividades semelhantes esteja com os mesmos sintomas que você, o organismo dela responde de maneira individual e única ao problema, e cada um deverá identificar os cuidados específicos para si, junto a profissionais.

Assim como qualquer medicamento, as pastilhas possuem contraindicações e efeitos colaterais. Como exemplo, a benzidamina, substância presente em diversas formulações de pastilhas, quando usada excessivamente pode causar dor de cabeça, sonolência e o seu uso concomitante com álcool, ou outros medicamentos como anti-inflamatórios e corticoides podem potencializar efeitos adversos gastrointestinais (2).

Devemos atentar também que cada formulação possui um limite máximo do número de pastilhas que pode ser consumido por dia e cada uma possui uma idade mínima para fazer uso do medicamento. Confira estas e outras informações sobre as principais formulações presentes do mercado nas tabelas abaixo (2):

Princípio ativo
Cloridrato de difenidramina + cloreto de amônio + Citrato de sódio
Nome comercial
Benalet®, Benatux®, Endcoff®
Posologia
Limitar a 2 pastilhas por hora, até o limite máximo de 8 pastilhas por dia
Indicação terapêutica
Ação antialérgica e expectorante. Indicado no tratamento da tosse, infecções na garganta e faringite
Observações
Contraindicações:
- pessoas com deficiência da função hepática ou renal; glaucoma de ângulo agudo; hipertrofia prostática com formação de urina residual; epilepsia; síndrome de QT longo congênita; bradicardia; hipomagnesemia; hipocalemia; feocromocitoma; arritmias cardíacas; ataque asmático agudo e diabetes.
-durante a lactação, pois o cloridrato de difenidramina é excretado no leite materno e devido ao potencial de ocorrência de reações adversas em lactentes, principalmente recém-nascidos e prematuros;
-uso concomitante com tranquilizantes, sedativos hipnóticos, outros fármacos anticolinérgicos e/ou inibidores da monoaminoxidase (MAO);
-em situações que exijam grande atenção mental, como a condução de veículos ou a operação de máquinas pesadas.
- contraindicado para menores de 12 anos

Princípio ativo
benzidamina
Nome comercial
Flogoral®, Coflogex®, Angino-Rub®
Posologia
Limitar a 10 pastilhas por dia
Indicação terapêutica
Ação anti-inflamatória e analgésica. Tratamento de processos inflamatórios e alívio dos sintomas de dor na boca e garganta
Observações
Contraindicado para menores de 6 anos

Princípio ativo
Benzocaína +tirotricina
Nome comercial
Amidalin®
Posologia
Usar 1 pastilha por hora ou no máximo 10 por dia
Indicação terapêutica
Ação antibacteriana e anestésica tópica. Indicado para o alívio de irritações e dores orofaríngeas oriundas de infecções ou processos cirúrgicos e no auxílio no tratamento de: amidalite, faringite, laringite, gengivite, estomatite, angina de Vincent e afta.
Observações
Contraindicado para menores de 8 anos

Princípio ativo
Cloreto de cetilpiridino + benzocaína
Nome comercial
Cepacaína®, Neopiridin®
Posologia
De acordo com a necessidade, não excedendo a 6 pastilhas por dia
Indicação terapêutica
Pastilhas antisséptica e anestésica da boca e garganta
Promove alívio rápido e temporário das dores e irritações da boca e da garganta provocadas por faringites, amigdalites, estomatites, resfriados e por procedimentos odontológicos e pequenas cirurgias da boca e garganta
Observações
As gorduras presentes no leite e nos ovos antagonizam os efeitos do cloreto de cetilpiridínio

Princípio ativo
Titrosina +quinosol+ benzocaína
Nome comercial
Malvatricin®
Posologia
Usar 4 vezes ao dia ou de acordo com as instruções do dentista ou do médico. Para uma melhor ação do produto, é aconselhável não comer ou beber durante 30 minutos após o uso.
Indicação terapêutica
Pastilhas antisséptica e anestésica da boca e garganta, usadas contra afecções da boca, aftas e dor de garganta.
Observações
Contraindicado para menores de 6 anos

Referências
Eccles, R. Understanding the symptoms of the common cold and influenza. Lancet Infect Dis 2005; 5: 718–725
Micromedex Healthcare Series. DRUGDEX System. Greenwood Village, CO: Truven Health Analytics, 2013. http://www.thomsonhc.com/. Accessed January 2, 2013.
TAMI, T. A. Distúrbios da garganta, in: GOLDMAN, L.; AUSIELLO, D. Cecil Medicina. 23 ed.Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, cap. 455, p. 3339-3342
MIMS, C. et al. Infecções do trato respiratório superior, in: Microbiologia Médica. 3 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, cap. 18, p. 217-233.
Jardim R, Barreto SM, Assunção AA. Voice Disorder: case definition and prevalence in teachers. Rev. Bras. Epidemiol. [Internet]. 2007 Dec. [Acesso 10 jul 2008];10(4):625-36.

Autor: Juliana Givisiéz e Uliana Pontes
Revisão: Fernanda Lacerda, Danielle Santos e Luisa Arueira

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