segunda-feira, 21 de março de 2016

Sibutramina: sonho ou pesadelo para quem quer emagrecer?

por Fernanda Lacerda da S. Machado

Se você vive lutando contra os números na balança, certamente já ouviu falar na sibutramina. Ela é uma substância bem parecida com a anfetamina, age no corpo aumentando a duração de ação da serotonina e noradrenalina. Estas substâncias atuam como neurotransmissores, ou seja, são responsáveis pela comunicação entre os neurônios, controlando diversas funções, como apetite, humor, pressão arterial, dentre outros (1).


A sibutramina foi aprovada para uso como inibidor de apetite para o tratamento da obesidade. Entretanto, foi retirada do mercado em 2010 nos Estados Unidos e na Europa após a divulgação de um estudo feito com cerca de 10.000 pessoas com doença cardiovascular e/ou diabetes (2). Neste trabalho, observou-se que o uso da sibutramina elevou em 16% o risco de problemas cardiovasculares como infarto, acidente vascular cerebral e parada cardíaca. Assim, muitos países consideram que estes riscos superam os benefícios de redução de peso para a maioria das pessoas.


No Brasil, a sibutramina é um medicamento controlado e só pode ser vendido com retenção da notificação de receita. Em 2014, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma resolução, a RDC no 50, de 25 de setembro de 2014 (3), visando aumentar o controle sobre seu uso, estabelecendo, inclusive, que a dose de sibutramina não pode ultrapassar 15 mg por dia. 

Além disso, a resolução tornou obrigatória a apresentação do “Termo de Responsabilidade do Prescritor para uso de medicamento contendo a substância sibutramina”.  Este termo deve ser assinado pelo médico e pelo paciente, comprovando que este recebeu todas as informações a respeito do medicamento.

Mas, talvez, você queira mesmo saber é se funciona. É possível perder quantos quilos usando a sibutramina? Cabe destacar que nem todas as pessoas respondem ao tratamento.  Estima-se que, em média, 32% das pessoas apresentam uma redução de 5% no peso e apenas 18% perdem em torno de 10% (4). 

E quando o tratamento é suspenso o que acontece? Os estudos que avaliaram o ganho de peso após a suspensão do uso da sibutramina observaram uma recuperação média de 43 a 55% do peso perdido (5). Portanto, em geral, a perda de peso é considerada modesta diante dos riscos que o medicamento apresenta. Mesmo com estes dados, a sibutramina ainda é comercializada no Brasil.

E quem são as pessoas que não podem usar sibutramina? Este medicamento é contraindicado para pacientes nas seguintes condições (3,6,7):

- acima de 65 anos, crianças e adolescentes;
- histórico de problemas nos vasos sanguíneos cerebrais, como acidente vascular cerebral;
- usuários de alguns medicamentos antidepressivos ou outros medicamentos para perda de peso que atuem no sistema nervoso central;
- histórico de problemas cardíacos como insuficiência cardíaca, arritmias, angina ou infarto do miocárdio;
- presença de transtornos alimentares como anorexia ou bulimia;
- pressão alta não controlada, ou seja, superior a 145/90 mmHg;
- alérgicos a sibutramina ou a algum dos componentes da fórmula.

Ainda que você não se enquadre em nenhum destes grupos, também podem ocorrer diversos efeitos adversos. Só para mencionar alguns destacamos: dor de cabeça, boca seca, prisão de ventre, insônia, rinite, faringite, sinusite, dores musculares, náuseas, dores nas articulações, nervosismo e má digestão (6). Além disso, a sibutramina pode elevar a pressão arterial, causar palpitações, dores no peito e até infarto (7).

Desta forma, a Anvisa determina que todo evento adverso relacionado a sibutramina deve ser obrigatoriamente informado à agência. A responsabilidade da notificação é dos profissionais de saúde, fabricantes, farmácias e drogarias.

Se diante destas informações você está pensando que é mais seguro usar aquele produto que um amigo comprou pela internet, naquele site que só vende suplementos naturais, mesmo assim é preciso ter cuidado. A agência que regula os medicamentos nos Estados Unidos (FDA) tem identificado frequentemente a presença irregular de emagrecedores como a sibutramina em inúmeros produtos vendidos sem receita médica. O pior, nestes casos, é que a sibutramina não aparece no rótulo destes suplementos. Assim, consumidores podem, mesmo sem saber, estar ingerindo sibutramina e, consequentemente, colocando em risco sua saúde (7). Portanto, desconfie de produtos que prometem milagres!

Por fim, vale destacar que a obesidade é um problema mundial. A Organização Mundial de Saúde estima que, em 2014, quase 2 bilhões de adultos no mundo estavam acima do peso. Destes, mais de 600 milhões são considerados obesos. No Brasil, dados da pesquisa Vigitel 2014 revelou que o excesso de peso atinge mais de 50% da população adulta no país (8). Frente a este quadro, é pouco provável que apenas um comprimido algum dia seja capaz de resolver o problema do sobrepeso no mundo. Assim, a melhor forma para perder peso ainda é modificar o estilo de vida, incluindo uma alimentação saudável e atividade física regular.

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Veja também: Diabetes

Referências:
1. Molinoff PB. Neurotransmission and the Central Nervous System. In: Brunton LL, Chabner BA, Knollmann BC, organizadores. Goodman & Gilman’s: The Pharmacological Basis of Therapeutics, 12e [Internet]. New York, NY: McGraw-Hill Education; 2011 [citado 21 de março de 2016]. Recuperado de: http://mhmedical.com/content.aspx?aid=1118513754

2. James WPT, Caterson ID, Coutinho W, Finer N, Van Gaal LF, Maggioni AP, et al. Effect of Sibutramine on Cardiovascular Outcomes in Overweight and Obese Subjects. New England Journal of Medicine. 2 de setembro de 2010;363(10):905–17. 

3. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC no 50, de 25 de setembro de 2014 [Internet]. 50 de setembro de, 2014. Recuperado de: http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/b709cc8047eda8e48c07ffa6f9e23b16/RDC+N%C2%BA+50,+de+25+de+setembro+de+2014..pdf?MOD=AJPERES

4. Rucker D, Padwal R, Li SK, Curioni C, Lau DCW. Long term pharmacotherapy for obesity and overweight: updated meta-analysis. BMJ. 29 de novembro de 2007;335(7631):1194–9. 

5. Arterburn DE, Crane PK, Veenstra DL. The Efficacy and Safety of Sibutramine for Weight Loss: A Systematic Review. Archives of Internal Medicine. 10 de maio de 2004;164(9):994. 

6. American Society of Health System Pharmacists. Sibutramine [Internet]. Dynamed. 2013 [citado 17 de março de 2016]. Recuperado de: search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=dnh&AN=232882&site=dynamed-live&scope=site

7. U.S. Food and Drug Administration. Tainted Weight Loss Products [Internet]. Tainted Weight Loss Products. [citado 17 de março de 2016]. Recuperado de: http://www.fda.gov/drugs/resourcesforyou/consumers/buyingusingmedicinesafely/medicationhealthfraud/ucm234592.htm

8. Ministério da Saúde. Obesidade estabiliza no Brasil, mas excesso de peso aumenta [Internet]. Blog da Saúde. 2015 [citado 17 de março de 2016]. Recuperado de: http://www.blog.saude.gov.br/35418-obesidade-estabiliza-no-brasil-mas-excesso-de-peso-aumenta.html

Revisão: Danielle Maria de Souza Sério dos Santos, Juliana Givisiéz Valente e Thaisa Amorim Nogueira.

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