quinta-feira, 24 de março de 2022

Por: Yanca Nunes e Luiz Suvobida
A variante Ômicron e a vacinação: O que sabemos até o momento

A importância da dose de reforço no combate a novas variantes da Covid-19

As novas variantes de um vírus surgem por um processo natural e esse processo é chamado de mutação. As mutações ocorrem ao acaso, porém quando essas mutações conferem vantagens adaptativas a um organismo, são selecionadas pelo meio e tendem a gerar organismos que serão predominantes em relação ao organismo original. 


Um vírus ao entrar em contato com uma célula tem como objetivo  realizar a replicação e assim, gerar novos vírus. Toda vez que esse processo acontece existe a chance de ocorrer alguma mutação que pode conferir vantagens adaptativas. Quando o vírus se replica com essa nova mutação, isso pode lhe conferir algumas vantagens, e desta forma surgem as novas variantes, como é o caso do novo coronavírus, SARS-COV-2, responsável por causar a COVID19, a partir do qual, desde sua descoberta em dezembro de 2019 até a presente data, têm sido identificadas várias variantes. 

Hoje sabemos que algumas medidas de proteção como o uso da máscara, higienização das mãos, evitar aglomerações, manter o distanciamento social e completar o esquema vacinal são medidas importantes para conter a disseminação das novas variantes do SARS-COV-2, pois quanto menor for a transmissão do vírus, há menos chances dele sofrer mutação. 

A nova variante Ômicron foi detectada pela primeira vez em 9 de novembro de 2021 na África do Sul, em Botsuana. Essa variante inclui mais de 50 mutações e é considerada como uma variante que tem causado preocupação na Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com a OMS essa nova variante (ômicron) contém alterações genéticas que conferem ao vírus uma maior transmissibilidade. Hoje a variante ômicron é a predominante no Brasil.

Porque mesmo vacinadas as pessoas continuam se infectando?

Muitos questionamentos têm sido levantados sobre a eficácia das vacinas, pois muitas pessoas que já completaram o esquema vacinal têm apresentado diagnóstico positivo para Covid-19. No entanto, é importante ressaltar que as vacinas contra a Covid-19 previnem os casos mais graves da doença que causam hospitalização e até mesmo morte.  A vacina é desenvolvida para prevenir casos leves, moderados e graves da doença, porém com o passar do tempo, a eficácia de algumas vacinas é reduzida devido a uma diminuição da imunidade do paciente ou se mostram menos eficazes frente a novas variantes, combatendo apenas as formas graves da doença. 

        Terceira dose (dose de reforço) e sua efetividade contra a variante ômicron

A partir do surgimento da variante ômicron, houve uma maior preocupação da comunidade científica e também da sociedade sobre a eficácia das vacinas frente à esta nova variante, considerando a necessidade de uma terceira dose ou como popularmente é conhecida uma “dose de reforço”. Hoje já se sabe, que de acordo com diferentes estudos, a vacinação tem eficácia comprovada frente à forma grave da doença causada pela variante ômicron e que a dose de reforço é necessária para aumentar os níveis de anticorpos neutralizantes. Antes mesmo do surgimento da variante, países, como por exemplo Israel, já estavam trabalhando com a probabilidade de aplicação de uma terceira dose como forma de prevenir desfechos graves e foi comprovado através de um estudo observacional que uma terceira dose é mais eficaz na proteção de indivíduos contra casos graves relacionados à COVID-19, em comparação com o recebimento de apenas duas doses. 

Importância da vacinação

A vacinação é uma das principais formas de prevenir doenças causadas por bactérias e vírus e foi descoberta através de  pesquisas que demonstraram que o corpo humano é capaz de desenvolver anticorpos quando se encontra na presença de certos patógenos, que são substâncias consideradas como estranhas pelo nosso organismo. Uma forma de demonstrar a eficácia da vacinação é o histórico de doenças que foram erradicadas por conta de uma vacinação em massa bem sucedida, como é o caso da varíola em que o último registro de enfermidade no mundo causado por essa doença foi em 1977. 

As vacinas são produzidas com o próprio microorganismo que causa determinada doença, porém esse microorganismo está inativado, como na vacina CoronaVac ou apenas parte do vírus é utilizada no desenvolvimento da vacina, como é o caso das vacinas contra Covid-19 da Pfizer, Astrazeneca e Janssen. Essas tecnologias permitem que o corpo humano entre em contato com uma forma do vírus incapaz de causar a doença, mas que gera uma resposta imunológica que ajudará o organismo a combater a doença quando eventualmente entrar em contato com o vírus ativo transmitido na comunidade.

A vacinação é uma estratégia coletiva, e somente quando grande parte da população está devidamente vacinada, se torna possível erradicar uma doença. Hoje no Brasil a adesão à terceira dose está abaixo do esperado, porém é de suma importância que este quadro se reverta e que as pessoas procurem o mais rápido possível a dose de reforço, para assim, evitar novas ondas de casos da doença  responsáveis por tantas mortes, e pelo colapso do sistema de saúde pública, que já vinha sofrendo com cortes orçamentários, sem contar com os sintomas da COVID-19 de longa duração. A COVID-19 de longa duração afeta uma parcela importante de pacientes que se recuperam da doença, caracterizada pela persistência de sintomas como cansaço, dores musculares e articulares, problemas respiratórios vários meses após de ter sido infectado com o coronavírus, gerando incapacitação e mais gastos à saúde pública, tornando-se mais um motivador para completar o esquema vacinal com três doses, conforme recomendado pelo Ministério da Saúde.


Referências bibliográficas 

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