quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Importância do uso correto dos antimicrobianos

Os antimicrobianos são medicamentos utilizados para tratar infecções decorrentes de microrganismos patogênicos, como bactérias, fungos, vírus e protozoários. Desde o ano de 2011, esses medicamentos passaram a ser regulados pela Resolução-RDC Nº 20 e partir de então, a aquisição em farmácias e drogarias destes se dá mediante a retenção da segunda via da receita e só pode ser realizada em até 10 dias após a data da consulta médica, com exceção dos tratamentos de uso prolongado1. Esta necessidade de restringir e regular a venda desta classe de medicamentos é devido ao aumento do aparecimento de infecções resistentes a ação dos antimicrobianos, ocorrendo, então, a falha do tratamento e possibilidade de agravar a doença e levar a morte do paciente.

Os microrganismos possuem capacidade ampliada de sofre mutação, isto é, alterações de suas características genéticas, ocorrendo modificações ao acaso e alguns desses eventos podem conferir resistência aos antimicrobianos. Quando os microrganismos são expostos ao tratamento antimicrobiano, apenas os sensíveis são eliminados, enquanto as resistentes não. Esses últimos, se multiplicam, transferindo as caraterísticas que conferem resistência às gerações seguintes. O uso prolongado ou indevido dos antimicrobianos acelera este processo, justificando o cuidado extremo na venda e utilização desta classe de medicamentos2.

Atualmente, existem infecções por bactérias resistentes nas quais ainda não há um tratamento eficaz, trazendo inúmeros malefícios aos pacientes. Como exemplo desta problemática, estão as infecções causadas pelos estafilococos, cujas espécies vêm apresentando resistência a diversos tratamentos. Em 2002 foram relatados os primeiros casos de infecções pela espécie  Staphylococcus aureus resistente aos antibióticos vancomicina e teicoplanina e ainda não há um tratamento com eficácia superior a estes medicamentos disponível no mercado farmacêutico3. Estima-se que somente nos Estados Unidos, entre 50 a 60% das infecções adquiridas no ambiente hospitalar foram devido a microrganismos resistentes acarretando cerca de 77 mil mortes por ano4. Este panorama gera uma responsabilidade social entre as equipes de saúde, cuidadores e pacientes no uso correto dos antimicrobianos, para assim, diminuir o aparecimento de infecções resistentes. Quando usamos o antibiótico de maneira errada ou desnecessariamente estamos contribuindo para o aparecimento de microrganismos resistentes e, consequentemente, com o agravamento deste problema de saúde pública mundial.

Os cuidados se iniciam na escolha do tratamento, recomenda-se sempre a utilização do antibiótico que apresente eficácia em dosagens mais baixas e que seja utilizado pelo menor tempo necessário. O uso de um medicamento de última geração em infecções que poderiam ser facilmente tratadas com medicamentos mais antigos podem acelerar o aparecimento de resistência e a perda da eficácia. Por isso, não se deve utilizar antimicrobianos sem indicação médica e jamais fornecer os próprios medicamentos a familiares ou amigos, mesmo que eles possuam os mesmos sintomas, uma vez que o tratamento ideal para uma pessoa é diferente para terceiros. No caso de sobra dos antimicrobianos, não o reutilize sem prévia avaliação médica, mesmo em casos de reincidência dos sintomas porque pode haver a necessidade de tratamento com outros medicamentos5.

Após aquisição dos antimicrobianos, torna-se necessário o uso correto, conforme orientação do médico ou farmacêutico. Utilize sempre os medicamentos da forma exata em que foi receitado, respeitando os horários de administração e o número de vezes por dia que deve ser tomado. É de extrema relevância, também, utilizar o medicamento pelo número de dias exato que está indicando na receita. Caso ocorra uma melhora no estado geral do paciente antes do final do tratamento, jamais interrompa o uso dos antimicrobianos, porque isso aumentaria o risco de retorno dos sintomas e da infecção. Se novamente ficar doente, retorne ao médico para uma nova consulta5.

Somente quando as equipes de saúde e os pacientes se conscientizarem do seu pleno papel no combate a esta problemática, poderemos atenuá-la. Por isso, certifique-se de que entendeu todas as instruções fornecidas pelo médico sobre a forma correta de uso do medicamento, em caso de dúvidas posteriores, procure novamente seu médico ou farmacêutico.
Referências
Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução-RDC Nº 20, de 5 de Maio de 2011
SANTOS, N. Q. A resistência bacteriana no contexto da infecção hospitalar. Texto Contexto Enferm; 13(n.esp):64-70, 2004
Kowalski TJ, Berbari EF, Osmon DR. Epidemiology, treatment, and prevention of community-acquired methicillin-resistant Staphylococcus aureus infections. Mayo Clin Proc; 80:1201-7, 2005
TAFUR, J.D.; Mecanismo de resistência a los antibióticos em bactérias Gram negativas.  Revista de Infectologia 2008
Oliveira, A. C.; Silva, R. S. Desafios do cuidar em saúde frente à resistência bacteriana: uma revisão. Revista Eletrônica de Enfermagem;10(1):189-197, 2008.



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