Por: Ana Carolina de Oliveira Vieira
Os opioides são substâncias sintéticas derivadas da papoula, uma planta com nome científico Papaver somniferum. Medicamentos opioides são utilizados como analgésicos para dores agudas crônicas, dores oncológicas, queimaduras e dores pós-operatórias. São indicados e prescritos apenas para casos de altos níveis de dor, por serem medicamentos muito fortes e possuírem um potencial altamente viciante para o organismo. De acordo com um relatório sobre opioides publicado pela Conitec, existem os opioides considerados mais fracos e mais fortes, pode-se citar os como opioides mais fracos a codeína e a di-hidrocodeína e como opioides mais fortes o tramadol, metadona, fentanil, morfina e oxicodona. Os opioides fracos geralmente são indicados para dores crônicas moderadas, em menores doses. Já os opioides fortes, são recomendados para dores oncológicas, musculoesqueléticas e neuropáticas, pois são medicamentos indicados para casos de dores severas e são administrados em doses mais elevadas, porém, possuem um alto potencial viciante. Há também os opioides ilícitos, usados como drogas recreativas, como é o caso da heroína, que é um entorpecente derivado do ópio, que possui grande propriedade de dependência nos usuários.
Os analgésicos opioides são medicamentos de uso e venda controlados no Brasil, que devem ser administrados de acordo com a orientação e receita médica, porém, por possuírem um efeito com grande potencial viciante no corpo humano, inúmeros pacientes que precisaram tomar esse tipo de medicamento em algum momento de suas vidas, se tornaram dependentes e continuaram a fazer o uso indevido desses fármacos até mesmo depois de curados, esse fenômeno acontece principalmente em países com histórico de prescrição de opioides quantitativamente superior.
A dependência dos analgésicos opioides é considerada uma grande problemática no Brasil e no mundo. De acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-10), a dependência opioide é definida pela presença de três ou mais dos seguintes critérios: forte desejo ou compulsão para o consumo de opioides; dificuldade no controlo do consumo; tolerância; abandono progressivo ou negligência dos principais interesses ou atividades prazerosas e a persistência do consumo de opioides apesar dos malefícios para o indivíduo. As principais formas de tratamento para transtornos de uso abusivo de opioides são: psicoterapias, grupos de auto-ajuda, tratamento hospitalar, tratamento ambulatorial e tratamento psicofarmacológico. O tratamento farmacológico se baseia no manejo da intoxicação, síndromes de abstinência, agressão ou alterações comportamentais induzidas por drogas e complicações médicas.
Em virtude das prescrições excessivas dos opioides, o vício, overdoses e taxas de mortalidade atingiram proporções epidêmicas no mundo. Os casos de intoxicação por opioides ocorrem quando há uso elevado de uma substância dessa classe, excedendo a dose da janela terapêutica medicamentosa, causando efeitos tóxicos no organismo. Essa intoxicação pode advir de sobredosagem acidental, interação medicamentosa ou abuso de alguma substância da classe opioide. Os Estados Unidos é o país que os médicos mais prescrevem analgésicos opioides e o que mais ocorre o tráfico ilegal desses medicamentos, sendo, consequentemente, o país no qual ocorrem mais mortes por overdose de opioides, resultando em mais de 564.000 mortes por overdose envolvendo opioides prescritos e ilícitos, de 1999 a 2020, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) do governo americano. No Brasil, a prescrição de opioides tem aumentado cada vez mais ao longo dos anos, como também, o consumo abusivo de opioides não prescritos, sendo eles ilícitos ou não.
No ano de 2019, um estudo foi realizado por um grupo de 19 pesquisadores da América do Sul, liderado pelo Institute for Health Metrics and Evaluation - IHME (Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde), que analisaram a extensão dos transtornos causados por uso de anfetaminas, cocaína, maconha e opioides nessa região, verificando desdobramentos como dependência, incapacidade e morte. Doze países sul-americanos foram estudados: Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. Os resultados encontrados por eles foi que a maioria dos transtornos está associada aos opioides, como a heroína e analgésicos, evidenciando a alarmante crise dos opioides em uma grande crescente na América do Sul.
A crise dos opioides por conta do seu uso inadequado e alto poder viciante, desencadeou intervenções que incentivam maior cautela em sua prescrição, o que também incluiu diretrizes para o manejo da dor aguda e crônica. Entretanto, os opioides continuam sendo os analgésicos de escolha para o tratamento de dores severas e a sua utilização, da forma correta, é um enorme desafio para os profissionais da saúde. Sendo assim, torna-se fundamental a criação de ações educativas para a população, trazendo informações atualizadas, claras e de fácil entendimento, além da orientação e acompanhamento individual do caso de cada paciente. Além disso, as organizações médicas e os conselhos devem apoiar essas ações educativas para os profissionais e divulgar informações seguras para os prescritores, minimizando os riscos de uso e prescrições indiscriminadas.
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